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AfterDrop, o que é e como afeta o nosso corpo?

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Piscina natural em lago congelado, com sol se pondo ao fundo. Local ideal para um afterdrop.

Quando épocas mais frias chegam, é provável que já devam ter escutado de nadadores de águas-abertas o assunto “afterdrop”. Mas exatamente que é isso? Como podemos controlar e ao que é importante estar atento?

Afterdrop é o termo utilizado por nadadores e aqueles envolvidos com eventos de exposição ao frio, como equipes médicas e de resgate. É definido como “resfriamento contínuo seguido da remoção do estresse pelo frio”.

A definição original veio de estudos realizados na segunda guerra mundial, no qual pessoas eram retiradas da água gelada e colocadas em água quente, onde não existiam exercícios envolvidos. Não é um termo puramente de nadadores. Mas para os nadadores de águas abertas de todas as temperaturas, resumidamente significa ficar com frio após sair da água.

O que você encontrará nesta página:


Reconhecendo o afterdrop

Afterdrop é quando a temperatura central do corpo continua a cair mesmo depois do atleta sair da água. Para a maioria das pessoas o efeito começa imediatamente após saírem da água. Contudo, em alguns casos pode demorar de 5-20 minutos até que a temperatura central do corpo caia o suficiente para que os efeitos sejam notados.

A pessoa poderá começar a tremer de forma súbita e intensa, e em casos menos comuns se sentir fraca, indisposta e até mesmo iniciar um estado de hipotermia. Isso é devido a temperatura central do corpo continuar caindo mesmo depois da pessoa sair da água, se secar completamente e estar vestida e bem agasalhada.

O afterdrop dura até que a temperatura central do corpo comece a se recuperar.

Como somos afetados pelo afterdrop?

Quando a água está fria o suficiente, todos são afetados pelo efeito. Não existe uma pessoa que não esteja sujeita ao afterdrop, pode demorar mais para algumas pessoas ficarem frias o suficiente até que aconteça, mas eventualmente, irá acontecer com todos.

Isso acontece devido à segunda lei da termodinâmica que trata da transferência de energia térmica: “O calor é transferido de forma espontânea do corpo de maior temperatura para o de menor temperatura.”.

Se a água está mais gelada que o nosso corpo, a não ser que calor seja colocado no corpo da pessoa de alguma forma, então o calor irá sair do corpo. Fazendo com que a água ao seu redor fique um pouco mais quente e o corpo fique mais frio. Levando em conta que a massa do corpo humano é virtualmente irrelevante em relação ao imenso corpo de água (mar, rios, lagos…), o efeito na pessoa é muito maior do que o efeito na água (que é praticamente inexistente).

O calor flui do mais quente para o mais frio, até que ambos estejam igualados, não existe exceção, não pode ser parado, apenas retardado.

Quando o atleta pratica natação em águas mais geladas, o corpo tenta proteger os órgãos vitais reduzindo o fluxo sanguíneo da pele e dos locais mais afastados, como os membros. Isso permite que a temperatura central se mantenha regular, enquanto a pele, braços e pernas acabam esfriando mais rápido. Isso é conhecido como vasoconstrição periférica.

Além disso, enquanto estamos nadando, estamos consumindo energia e liberando calor como parte do processo de se movimentar. Isso favorece a manutenção do calor no centro de nosso corpo. Assim que saímos da água, levantamos e finalizamos o treino, o esforço diminui, assim como a liberação de calor.

Os benefícios do Wetsuit

A razão para os wetsuits serem efetivos é que eles funcionam como isoladores, separando a água gelada de nossa pele em virtude da composição do neoprene e da fina camada de água aquecida pelo corpo que fica entre a roupa e a pele. Isso reduz o contato com a água fria e retarda bastante a perda de calor de nosso corpo.

As Teorias

Existem duas teorias sobre a causa do que está acontecendo com o corpo para que o afterdrop ocorra.

A primeira teoria, mais antiga e aparentemente já refutada, sugere que assim que o atleta sai da água a vasoconstrição periférica termina. Assim o sangue mais gelado dos membros e da pele retorna para a parte central do corpo e se mistura com o sangue mais quente. Fazendo com que a temperatura central do corpo diminua, mesmo que a pessoa já esteja bem aquecida e agasalhada.

A segunda, e mais recente, atribui o afterdrop a um efeito colateral da transferência de calor por condução. Nesta teoria, existe o reconhecimento de que o atleta resfria de fora para dentro, como uma “frente-fria” que invade o corpo e se move das zonas mais afastadas (os membros, que já estavam mais frios) para a parte central do corpo. Consequentemente, um gradiente de calor é estabelecido da parte mais quente do corpo para as zonas periféricas, mais frias. Até que o gradiente seja revertido, o que não acontece de forma imediata, ocorre mais transferência de calor da parte central do corpo para as áreas periféricas – mais frias – mantendo o corpo, como um todo, frio por mais tempo.

Confirmações e Experimentos

O efeito em si pôde ser observado em um estudo realizado pelo Laboratório de Ambientes Extremos, da Universidade de Portsmouth, Inglaterra.

Para o experimento, 2 situações foram testadas: nadar por 2 horas em águas com temperatura de 18ºC e 16ºC. Com a água mais quente, a temperatura do corpo diminuiu uma média de 0,5ºC, a pessoa saiu da água, se secou, se agasalhou e tomou líquido quente, foi observado uma queda da temperatura após isso, antes de voltar a subir e se estabilizar. Então o mesmo foi repetido com a água mais gelada, a queda de temperatura média após a natação foi menor, a temperatura mínima no afterdrop foi maior e demorou mais tempo para estabilizar.

Já sobre a partir de que momento o nosso corpo é afetado pelo efeito, em um estudo de 2000 do T J Nuckton foram avaliadas as temperaturas de alguns nadadores que participaram de um evento de águas abertas. Dos 9 nadadores que tiveram a temperatura avaliada, seis entraram no processo de diminuição de temperatura logo assim que saíram da água, enquanto 3 outros atletas só tiveram a queda da temperatura de 3 a 6 minutos após saírem da água. Mas todos experimentaram o efeito, onde alguns tiveram uma queda na temperatura por até pouco mais de 30 minutos, antes da mesma começar a subir e regularizar.

Fatores que afetam o início do afterdrop

Essencialmente são os mesmos fatores que contribuem para a hipotermia. Então deve-se tomar muito cuidado para que o treino não acabe desencadeando um processo que leve à perda de calor suficiente para que o estado de hipotermia se inicie.

De acordo com a Federação Internacional de Natação – Fina, a temperatura da água precisa estar entre 16º C e 31º C para que algum evento seja executado. Abaixo dos 16º é considerada gelada e as chances de complicações aumentam, principalmente para os iniciantes e menos aclimatados com o frio. Quando nosso corpo fica abaixo dos 35ºC já pode ser considerado um estado de hipotermia leve, e quando abaixo dos 29ºC em um estado de hipotermia severa. Com isso podemos levar em conta que o afterdrop é parte do processo de hipotermia.

A seguir serão listados características que afetam o início do afterdrop:

  • Temperatura da água. Quanto mais fria a água, mais provável o afterdrop;
  • Tempo de exposição. Quanto mais tempo na água, mais calor perdemos;
  • Aclimatação do atleta. Tempo passado em águas frias resultam em adaptações físicas e psicológicas;
  • Condições do ambiente. Especialmente em dias com vento forte e/ou frio;
  • Composição corporal. Quantidade de gordura no corpo, quantidade de músculo, volume e superfície da área em contato com a água. Tudo isso afeta em como nosso corpo perde calor para o ambiente mais frio.

Saindo da água, o que fazer?

Independente do mecanismo, o efeito é real, e já que o resfriamento é inevitável, as perguntas que surgem são a respeito do que devemos fazer? algumas sugestões:

  • Se seque e se vista logo que sair da água. Assim que o treino termina pode estar se sentindo ótimo, mas o corpo está frio e a defesa natural contra isso logo entra em ação. Se seque e se vista (preferencialmente com roupas quentes) rápido, antes que o corpo e mãos comecem a tremer muito e atrapalhar;
  • Enxugue-se em um local seco e mais quente, longe do vento. Se possível fique em cima algo quente (como um tapete), enquanto se seca e se veste;
  • Se após a natação vai dirigir, aguarde até que esteja bem aquecido e espere a confirmação de seu corpo. Aguarde de 10-20 minutos para verificar se haverá tremores. O que pode tornar a direção extremamente perigosa, pois os tremores de súbito acabam descontrolando certos movimentos;
  • Se estiver com muito frio, não tome um banho quente logo em seguida, espere a temperatura do corpo regularizar um pouco. Nadadores muitas vezes experienciam desmaios quando a temperatura do corpo muda rápido demais devido ao banho quente;
  • Movimentos são bons para aquecer o corpo, andar rápido ou polichinelos podem ajudar;
  • Bebidas quentes podem ajudar;
  • Saia da água antes que você comece a esfriar demais e provocar um estado de hipotermia, perceba os movimentos ficando mais lentos e respiração irregular;
  • E em especial, fique atento aos seus colegas nadadores, principalmente os iniciantes, os 10-20 minutos após sair da água são sempre os de mais atenção;

Fontes:

 

#endorfine-se

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